A igreja do caminho e os descaminhos da igreja

05/12/2011 13:38

 

A Igreja do Caminho e os Descaminhos da Igreja

Há alguns dias eu participei de um encontro com alguns dos mais respeitados líderes apologistas do universo pentecostal. Foram dois dias de análise e reflexão sobre os ensinos heterodoxos que tentam, a todo momento, invadir o arraial evangélico. Em meio às discussões um daqueles líderes fez referência a um movimento que a seu ver parece cada vez mais ganhar força entre os evangélicos brasileiros. Segundo ele o movimento foi batizado no universo virtual com o nome de Caminhos da Graça. Resolvi fazer uma garimpagem na rede para descobrir a razão dessa celeuma toda criada em torno desse movimento. Descobri que além do nome de Caminhos da Graça, o movimento recebe o nome de Estação Caminho e também de Fraternidade do Caminho. O Movimento é relativamente novo, mas já faz um barulho tremendo. Há informações na web que um dos portais ligados ao Caminho da Graça, que daqui em diante denominarei simplesmente de Caminho, já alcançou a alta cifra de mais de dois milhões de visitas, e isto em menos de um ano. Até pouco tempo o Movimento parecia não possuir muita visibilidade entre os internautas até que um dos seus principais mentores, rev. Cáio Fábio, um dos mais destacados líderes evangélicos das décadas de 80 e 90, lançou seu portal com artigos e textos na web. É exatamente os pressupostos da teologia fabiana que tem fomentado os mais calorosos debates em torno do Caminho. Percebe-se que o Caminho não quer aparecer com a cara de mais uma denominação ou mesmo uma nova igreja, mas apenas como um movimento querendo viver dos princípios extraídos da graça cristã. Nesse sentido procura-se o máximo evitar a institucionalização. A proposta é arregimentar aqueles cristãos, que mesmo fazendo parte de uma denominação institucionalizada, não gozam de uma fraternidade sadia onde estão. Assim é que se lê em um dos informes do Caminho de fevereiro de 2008: “Logo, a "Fraternidade no Caminho" pretende agrupar todos que tenham identificação com os conteúdos e com o espírito do que estamos ensinando, e não querem ficar sozinhos. A Fraternidade carrega a finalidade de aproximar esse imenso grupo de Gente Boa de Deus que O serve a seu modo e lugar, por vezes, sem comunhão nos próprios corpos denominacionais nos quais ministram”. A proposta é, portanto, definida com a frase que Fábio quase sempre termina suas cartas: “reunir os filhos de Deus que andam dispersos”. (www.fraternidadenocaminho.blospot.com, acesso 25.04.2008). Todavia como “o livre de hoje, será o institucional de amanhã”, para usar as palavras do cardeal belga Leon-Joseph Suenens, o movimento começa a trazer para seu seio o odor da institucionalização. Na verdade já se percebe uma estrutura denominacional e institucional. Já se fala, por exemplo, de um corpo governante, um clero que presidirá os trabalhos. Assim é que em outro informe do Caminho datado de 15 de janeiro de 2008, se lê: “Marcaremos um encontro de todos e nele elegeremos um grupo de irmãos que anualmente serão os responsáveis pela Fraternidade no Caminho; Todos os anos o grupo de líderes-servos será renovado para a tarefa da manutenção da comunhão entre os irmãos; Os encontros terão a finalidade de aproximar esse imenso grupo de Gente Boa de Deus que anda sem comunhão nos próprios corpos ministeriais nos quais servem”. (www.fraternidadenocaminho.com) Em outro documento enviado aos membros do Caminho é discorrido sobre as dificuldades encontradas por conta da falta de uma estrutura arquitetônica onde possa acomodar os integrantes do movimento: “Como o “Caminho da Graça” ainda não tem em Brasília seu próprio auditório (temos um casa, mas não cabem as 1000 pessoas que freqüentam aos domingos o Teatro La Salle) — temos que ficar subordinados à agenda de compromissos do Colégio La Salle.” (www.caiofabio.com, acesso 23.04.2008) A ideologia do Caminho se parece muito com o movimento americano batizado como o nome de Igreja Emergente, que tem no Teismo Aberto o seu principal pressuposto teológico. Dentre outras coisas o movimento americano defende um evangelho cuja ortodoxia seja mais generosa e que inclua em suas fileiras dentre outras coisas os homossexuais, sem que necessariamente eles mudem suas orientações sexuais e, uma interpretação da Bíblia menos literalista. Gregory Boyd e Brian McLaren são os principais teóricos dessa escola de pensamento. (Daneil, Silas, A Sedução das Novas Teologias, CPAD, 208). Pois bem, como eu escrevi anteriormente verifica-se que a causa de toda polêmica em torno do Caminho está no contraste entre os pressupostos da teologia fabiana, isto é, naquilo que ela dizia antes e no que ela diz hoje. As aporias se tornam mais perceptíveis nos temas relacionado ao divórcio e o novo casamento; reintegração ao ministério de um pastor que fracassou moralmente; homossexualidade e suas causas; valores absolutos e relativos e moralidade e graça. Vejamos como estes conceitos eram vistos antes e como são vistos hoje na teologia fabiana: O que dizia antes sobre as possíveis causas do divórcio 1. O diabo “Pelo menos, três coisas muito sérias me vêm à mente. Elas mostram que o diabo está agindo intensamente querendo prejudicar casais, e, de alguma forma, abafar coisas que o Espírito de Deus já começou a fazer. É sua intenção tornar a amargurar os que estão dando uma chance de se desamargurarem, querendo enfiar sua cunha pela alma a dentro, na relação conjugal para, outra vez, separar as partes. Estou convencido de que tratar desse tema da família, do relacionamento conjugal, das nossas intimidades, tem a ver com algo absolutamente nevrálgico, espiritual e que interessa a todas as forças hostis do mundo espiritual, de forma a penetrar e atrapalhar o êxito daquilo que a palavra de Deus e o Espírito do Senhor Jesus querem lograr realizar em nós”. (Caio Fábio, Família – Idéia de Deus: refletindo questões básicas para o perfeito andamento do universo familiar, Vinde Comunicações, Rio de Janeiro, 1994, grifo meu). Observa-se aqui: a) Deus está interessado em manter os casais unidos b) Primeiramente forças espirituais e não humanas, isto é, o diabo é quem está por trás das separações. 2. Individualismo “Os casamentos têm sido altamente estragados por esse individualismo, esse complexismo. As dificuldades relacionadas são crescentes em nosso meio. O individualismo tira o espaço do ser um com o outro. Você quer ser para ver”. (Família – Idéia de Deus). 3. Adultério “No capítulo 5, de 27 a 32 (Mateus), Jesus começa falando da fantasia sexual que não pára em momento algum (...) O adultério é uma das formas mais terríveis de traição. Tanto que ela é a causa das causas do término de um casamento (como diz Jesus no v.32), se um cônjuge não tiver estrutura suficiente para oferecer um perdão mais generoso do que a dor e a mágoa contida. Isso é terrível”. (Família – Idéia de Deus). 4. Hedonismo “Jesus disse que se você quiser construir um projeto de vida para ruir adiante basta brincar com a fantasia. É deixar a imaginação correr solta, vivendo um sonho “hollywoodiano”, embarcando nessa síndrome de Cinderela, construindo esse castelo hedônico e levando, às últimas conseqüências, a obstinação de realizar seus próprios desejos fora do casamento. Você vai ter que agüentar as conseqüências, porque o casamento vai desabar”. (Família – Idéia de Deus). O que diz hoje sobre as possíveis causas do divórcio “Existe “algo errado” nos casamentos evangélicos de hoje? Resposta: Sim! E não é de hoje! Existe um simplismo enorme... A idéia de que Deus banca os casamentos. Ora, casamento é coisa de um homem e de uma mulher...e os dois é que têm de se encontrar”. (entrevista: www.caiofabio.com.br, grifo meu, acesso 23.04.2008). Observa-se aqui; a) Deus não banca casamentos b) O casamento é coisa de humanos. O que dizia antes sobre fracasso conjugal e sua relação com o ministério pastoral. “Imaginem aquele jovem profundamente envolvido com o ministério, casado, com filhos e, de repente, começa a se alucinando, e inclinado a se envolver com as adolescentes da igreja. Ele é pastor, mas não resiste ao apelo dos corpos jovens. Ele se entrega totalmente às paixões e experiências as mais diversas. De repente é descoberto! Arruína seu casamento, arruína sua vida, arruína seu ministério, perde a si mesmo, é quebrado pelo meio, sente-se esmagado. Rompe seus padrões, suas referências e respeito próprio, acabando com o seu futuro, pelo menos na dimensão e perspectiva sonhadas”. (Família – Idéia de Deus: refletindo questões básicas para o perfeito andamento do universo familiar, grifos meus). Observa-se: a) Um pastor que se entrega a uma paixão extraconjugal, arruína primeiramente seu casamento e sua vida e depois seu ministério. b) Acaba com seu futuro ministerial O que diz hoje sobre o fracasso conjugal de um líder e sua posição de liderança. “Biblicamente, um pastor ou líder de igreja pode ser divorciado?. Resposta: A Bíblia não diz nada sobre o assunto. Quem fala sobre isto é a “revelação da moral cristã”... que não tem necessariamente a ver com a Palavra e seu espírito. O que se diz... entre muitas outras coisas...é que o líder seja “marido de uma só mulher”... Ou seja: que não seja bígamo. Quanto ao mais...a meu ver...qualidade de liderança nada tem a ver com acidentes na vida. A maioria dos líderes que conheço não se divorciaram... mas eu não confiaria a alma de meus filhos ao ensino deles. Divorcio só divorcia gente que já está divorciada. E não vale a pena manter um casamento de mentira.. apenas para fins de consumo ministerial. Mentira! (Entrevista: www.caiofabio.com.br, grifo meu). Observa-se: a) A Bíblia não legisla sobre a possibilidade de um pastor divorciado continuar sendo pastor. b) Qualidade de liderança nada tem a ver com acidentes da vida, isto é, fracasso conjugal. O que dizia antes sobre as possíveis causas do homossexualismo e sua cura. 1. Causas “Algumas pessoas carregam o fardo do homossexualismo ou, com igual freqüência hoje em dia, o do comportamento bissexual, visto terem sido exploradas em relações homossexuais quando crianças. Há aqueles que não chegaram a tornar-se homossexuais, mas foram usados na infância que, mesmo sentindo-se atraídos pelo sexo oposto, não conseguem libertar-se do interesse por pessoas do mesmo sexo – se bem que não tenham o habito da prática homossexual”. (A Cura das Feridas Interiores, Caio Fábio, Editora Vinde, 1984). Observa-se: a) Uma das possíveis causas do homossexualismo está associada a um abuso sexual sofrido na infância. b) Não há indicação aqui que essa prática seja genética 2. Cura “E por último, a maldição na família, a gente vence com a conversão dos pais aos filhos, a conversão dos filhos a seus pais, a conversão das mulheres a seus maridos, a conversão dos maridos às suas esposas. Conversão horizontal no ambiente da casa da gente. É aí e, só aí é que haverá chance para este seu filho que está crescendo homossexual, aprender o caminho da masculinidade; pra esta filha que está crescendo lésbica, aprender o caminho do amor de uma mulher para com um homem e não de uma mulher para com outra mulher”. (As Quatro Maldições – saiba quais são e como enfrenta-las, Caio Fábio, Vinde Comunicações, 1995). Observa-se: a) A chave para se manter livre da prática homossexual é a conversão. O que diz hoje sobre as possíveis causas da homossexualidade e sua cura. “Os únicos homossexuais que eu já vi serem “curados” são os que nunca foram”. “Eu não tenho dúvida de que em muito breve ficará definitivamente provado – já se caminha com muita rapidez para isso – que a homossexualidade tem como fator preponderante a genética”. “Há pessoas homossexuais que nunca praticaram um único ato homossexual, mas nem por causa disso deixaram de ser. São eunucos por causa do Reino de Deus”.

(https://www.caiofabio.com//hpaginternapesquisar.aspx?4YtPeQYP1vrBmjV/+PNdAv, conforme citado no blog: www.juliosevero.blogspot.com, acesso 20.04.2008).
Embora essas informações não estejam mais disponíveis no site do Caminho, todavia outros textos continuam disponíveis revelando a mesma perspectiva: LEIA TEXTO NA ÍNTEGRA NO LIVRO: DEFENDENDO O VERDADEIRO EVANGELHO (CPAD, 2009) 
 
Autor: Pr. José Gonçalves